
No universo das redes sociais, a busca por popularidade e riqueza é, para muitos, um jogo arriscado e repleto de ilusões. Segundo uma pesquisa conduzida pela socióloga, cientista política e antropóloga Rosana Pinheiro-Machado, professora da School of Geography na University College Dublin e diretora do Digital Economy and Extreme Politics Lab (DeepLab), que monitorou 549 influenciadores e 500 mil aspirantes a influenciador no Instagram, o sonho de ascensão social rápida por meio das redes sociais é compartilhado por milhões de brasileiros. Dentro dessa amostra, Pinheiro-Machado identificou que, dos 25 milhões de brasileiros que trabalham de alguma forma no Instagram, a maioria são mulheres periféricas, negras e de classes sociais baixas, enfrentando barreiras estéticas e técnicas quase inatingíveis para prosperar.
Esses aspirantes a influenciador estão divididos em grupos de acordo com seu número de seguidores:
- Aqueles com até 5.000 seguidores geralmente se comunicam apenas com familiares e vizinhos.
- A partir de 50 mil seguidores, começam a ter relevância no marketing digital.
- Acima de 200 mil, estão as contas consideradas “poderosas”.
- No topo da pirâmide, com mais de 500 mil seguidores, estão influenciadores como Pablo Marçal e Thiago Nigro, que dominam o mercado de mentorias e prometem transformar a vida financeira de seus seguidores com métodos de sucesso prontos e lucrativos.
O Perigo da Rede dos Milionários Influencers
A promessa de riqueza rápida e fácil tem atraído milhões de seguidores no Brasil, muitos deles em situações de vulnerabilidade econômica. Com a redução de oportunidades no mercado de trabalho formal, esses influenciadores surgem como supostos salvadores, oferecendo mentorias e métodos para o enriquecimento instantâneo. Pablo Marçal, por exemplo, atrai seguidores dispostos a investir altos valores em cursos e mentorias – alguns chegam a vender bens ou utilizar o FGTS para pagar por essas “oportunidades”. Este tipo de atitude cria uma ilusão perigosa onde os seguidores acreditam que estão a um passo de mudar de vida, quando, na realidade, acabam se endividando enquanto enriquecem quem já está no topo.
O Mundo Fake dos Influencers: Realidade ou Ilusão?
O que esses influenciadores vendem, no entanto, é mais fachada do que realidade. A maioria exibe uma vida de luxo, liberdade financeira e sucesso absoluto, com mansões, carros esportivos e férias paradisíacas. No entanto, essas imagens e histórias são uma construção ilusória cuidadosamente montada para atrair seguidores e vender a ideia de sucesso financeiro fácil. Para muitos, o sucesso financeiro é um marketing pessoal – e não uma realidade que todos podem alcançar. Como Pinheiro-Machado destaca, o produto que esses influenciadores criam é uma promessa vazia baseada no desejo de ascensão social e na fantasia de prosperidade instantânea.
Métodos de “Geração de Fortuna”: Muito Marketing, Pouco Resultado
Entre os métodos oferecidos, destaca-se a famosa “Fórmula de Lançamento”, a qual, como autor deste artigo, também experimentei. Este método nada mais é do que uma aula estruturada de marketing, ensinando como lançar produtos no mercado. No entanto, para que essa estratégia realmente traga resultados, é necessário contar com uma equipe de suporte composta por redatores, designers e especialistas em desenvolvimento de campanhas. Para aqueles que possuem um acesso limitado a esses recursos, o método torna-se inviável e sua promessa de sucesso difícil de alcançar. Na prática, operar como uma equipe “solo” limita drasticamente as chances de resultado e revela o alto custo dos recursos humanos necessários, algo raramente discutido nos cursos de marketing digital.
Influencers e o Jogo Arriscado de uma “Bet” Mal Avaliada
A narrativa de que qualquer pessoa pode prosperar comprando cursos e mentorias de enriquecimento é amplamente vendida, mas poucos ressaltam os riscos. Quando analisamos influenciadores como Pablo Marçal, percebemos que o investimento nesses cursos é, na realidade, uma aposta de alto risco, onde muitos se endividam enquanto a promessa de sucesso não se concretiza. A maioria dos consumidores desses produtos não possui a infraestrutura ou os recursos financeiros para transformar o conhecimento adquirido em um negócio rentável, tornando o investimento nessas “fórmulas” uma “bet” mal avaliada e com baixa probabilidade de retorno positivo.
Considerações Finais
O mundo dos influencers tem se tornado um ambiente com pouca regulamentação, onde sonhos e ilusões são vendidos sem barreiras. Reconhecer as redes sociais como plataformas de trabalho e implementar políticas públicas para regular essa área são passos essenciais para mitigar o impacto nocivo dessa indústria. Para quem deseja ingressar neste meio, é importante estar ciente dos perigos e da realidade de que o sucesso exibido nas redes sociais pode ser uma ilusão – e que, para a grande maioria, os métodos de fortuna prometidos são apenas mais uma forma de enriquecer quem já está no topo.
Fontes usadas como referências neste artigo:
- https://people.ucd.ie/rosana.pinheiro-machado
- https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2020/01/13/entrevista-rosana-pinheiro-machado.htm
- https://peoplesforum.org/instructor/rosana-pinheiro-machado/
- https://www.ihu.unisinos.br/184-conferencistas/581588-profa-dra-rosana-pinheiro-machado
- https://www1.folha.uol.com.br/tec/2024/10/pablo-marcal-e-excecao-ha-influencer-vendendo-carro-para-pagar-mentoria-diz-pesquisadora.shtml


